Um exemplo de liderança, de respeito e procura de pontes com quem pensa de forma diferente da nossa tornado ainda mais precioso e urgente, numa era de crescente tensão global e intolerância pelo pensamento divergente.
“As pessoas acantonam-se cada vez mais hoje em dia em tribos gritadoras umas às outras, de posições autistas, sem fazerem um mínimo esforço de construção de pontes e ainda menos para se tentarem pôr no lugar dos opositores”, sublinha António Mateus, a vincar o contraste desta postura com a de Mandela.
Num contexto de divisões bem mais cruas e extremas, Madiba tentou perceber os seus inimigos e compreender o mundo na ótica destes. E nenhum outro constituía maior perigo do que Viljoen.
No primeiro conjunto de registos, Mandela recebe já enquanto presidente, em novembro de 1995, o líder do partido de direita conservadora Volksfront, com quem travou à ultima hora uma tentativa de golpe de Estado antes das primeiras eleições multirraciais no país, a 27 de abril de 1994.
O general Constand Viljoen, que comandou no terreno a invasão militar sul-africana de Angola, no final da década de 70, acabaria por ser “seduzido” pelos sucessivos esforços e garantias por Mandela, de que as transições conturbadas de países vizinhos não se verificariam na África do Sul e que todas as comunidades seriam respeitadas e teriam lugar no futuro do país.
Num contexto de divisões bem mais cruas e extremas do que aquelas com que nos debatemos na atualidade, Madiba tentou perceber os seus inimigos e compreender o mundo na óptica destes. E nenhum outro constituía maior perigo do que Viljoen.
Ao apostar no diálogo, paciência e, acima de tudo, no respeito, mobilizou o general de um recurso à guerra para a paz, transformando um rival amargurado num aliado leal, por uma causa nacional partilhada.
O segundo conjunto de fotos reporta-se a um dos momentos mais graves que marcaram os últimos anos de governo do último presidente branco, Frederik de Klerk, o chamado massacre de Boipatong, a sul de Joanesburgo, na noite de 17 de junho de 1992.
Aquele que constituiu o incidente sangrento mais grave desde a libertação de Mandela, marcaria um ponto de viragem decisivo no processo de erradicação do apartheid.
Após três anos de negociações multipartidárias, com avanços e recuos, chegou-se a acordo (a que se reporta o terceiro grupo de fotos) para realização das primeiras eleições multirraciais, a 27 de abril de 1994, e que seriam disputadas por 19 organizações políticas, entre as quais o LUSAP (Partido Luso-sul-africano).
O quarto e último registo é preenchido por duas fotografias recolhidas durante uma cerimónia pascal da igreja zionista na localidade de Moria, em que participaram Frederik de Klerk, Nelson Mandela e o líder do Partido Inkatha da Liberdade, príncipe zulu Mangosuthu Buthelezi.
Fotografias: António Mateus - RTP